Uma das primeiras vezes que eu me lembro de ouvir a máxima “menos é mais” foi quando, no final da década de 1990, ou seja, quase na virada do milênio, eu trabalhava em um salão de beleza superchique da capital federal. Na época, eu passei de relações públicas para maquiador, estimulado pelo proprietário do lugar, um grandessíssimo cabeleireiro da “corte” (como Brasília era denominada por muitos). Era uma cliente levantar da minha cadeira que de longe ele balbuciava, “Gilberto, menos é mais!”, enquanto com a mão fazia a mímica como estivesse se maquiando. Será que eu estava exagerando na make alheia, achando lindo mesmo assim? Ariano nato, provavelmente que sim…
O que eu quero mesmo dizer, com essa introdução aparentemente desnecessária, é que o menos é de fato muito mais. E para quem vive em Brasília, essa é uma lição que está a nos bombardear constantemente, e a cada esquina que insiste não existir por aqui. Afinal, pensa aí um pouco: qual cidade que você conhece que tem como características linhas retas, curvas estonteantes, espaços verdes abundantes, concreto aparente, mas acima de tudo, muita lógica em sua concepção? É, você pode achar que ela seja ilógica, mas quando Lúcio Costa se inscreveu e ganhou o concurso da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), em 1956, a simplicidade do seu “plano piloto” foi um dos fatores que o ajudou a desbancar outras 25 propostas, além da sua.
Quem não conhece esse pedaço da história sobre a construção de Brasília, sugiro fortemente que “dê um google” ou (para eu não ser visto como cringe) pergunte ao Chat GPT, pois é muito interessante descobrir que, com apenas poucos desenhos (na verdade rabiscos que mais pareciam uma cruz, um pássaro ou um avião) e muita clareza na hora de expor suas ideias (já que o projeto trazia inúmeros detalhes da futura cidade e suas quatro escalas: monumental, residencial, gregária e bucólica), Lúcio Costa iria criar um marco na história mundial da arquitetura e urbanismo brasileiros.
Antes de mais nada, deixa eu “bugar” a sua mente um pouco mais! Pesquisando para escrever esse texto, me deparei com uma matéria muito legal feita pelo G1 que, segundo o cartógrafo Adalberto Lassance, o célebre urbanista se irritava muito com a comparação de seu plano piloto com o formato de um avião. Na verdade, somando as áreas em torno dos eixos, o que ele sempre vislumbrou foi a forma de uma borboleta! Com essa, até eu fiquei chocado! Quer ler a matéria por completo? Clique aqui!
Enfim, para você que anda para lá e para cá sem prestar atenção ou conferir o devido valor à Brasília de 2024, extremamente inovadora quando surgiu, ela foi declarada Patrimônio Mundial da UNESCO em 1987. Entre os critérios que garantiram a honraria, está o fato da cidade representar uma obra-prima do gênio criativo humano por conta do design inovador de Lúcio Costa e a arquitetura modernista de Oscar Niemeyer. Outro motivo é que a capital federal tem um conjunto arquitetônico que ilustra um período significativo na história humana, um exemplo notável de urbanismo e arquitetura do século XX, refletindo os ideais modernistas. E sabe o que é mais impressionante? Esse foi o primeiro tombamento que a UNESCO conferiu no mundo desse tipo, ou seja, para um conjunto de ideias que são geniais de tão simples.
Inclusive, quero finalizar essa crônica lhe convidando a assistir este Reel que fiz sobre Brasília que, apesar de sua simplicidade, ainda causa em turistas e em alguns desatentos aquela sensação de déjà-vu. Nele, tem várias dicas para quem se enquadra no perfil conseguir decifrar a cidade de uma vez por todas. Mas atenção, pois a paixão vai ser tamanha que vai te dar vontade de carregar esse plano piloto (que mais lembra um pássaro, um avião e agora uma borboleta), no pescoço. Nesse caso, é só adquirir o colar homônimo da BSB Memo clicando neste link, um presente que resume em perfeição a máxima “menos é mais”. Não é mesmo?