Ah! As Superquadras de Brasília… Nem lembro quando foi a primeira vez que entrei em alguma delas, mas é fato que sempre adorei, tão diferentes do bom e velho Guará 1. Diferente do que muita gente pensa (sobretudo quem vem de fora ou apenas visita a cidade), nunca achei que elas são repetitivas, tampouco têm “a mesma cara”; ou seja, nunca me deram a famigerada sensação de déjà-vu. Mesmo parecidas na forma, ainda acredito que cada uma delas, de norte a sul, tenha suas próprias características, uma personalidade. Como tenho irmãs gêmeas, desde cedo aprendi a identificar diferenças.
Fazendo parte de um conceito urbanístico inovador desenvolvido por Lucio Costa para o Plano Piloto, as Superquadras foram criadas para se tornarem áreas de convivência que combinassem residências, serviços e áreas verdes, priorizando o bem-estar e a socialização dos moradores, além de manter uma sensação de proximidade com a natureza.
De fato, as primeiras superquadras — SQS 107, 108, 307 e 308 — são conhecidas como “superquadras modelo”. Sobretudo a SQS 308, que foi projetada para ser uma referência arquitetônica e urbanística, com jardins do paisagista Burle Marx e azulejos de Athos Bulcão (Igrejinha). O conceito de integração com a natureza é notável nelas: as áreas comuns incluem árvores nativas e recantos únicos, como o espelho d’água e suas carpas rechonchudas (não as alimente, por favor), que promovem um ambiente mais residencial e acolhedor, em contraste com o espaço de trabalho e movimentação do restante da cidade.
Vale lembrar que essas quadras também foram planejadas para incentivar a locomoção a pé, com comércio próximo e acessos facilitados, além de abrigarem as primeiras escolas e equipamentos culturais, contribuindo para um ambiente de bairro onde os moradores poderiam resolver boa parte de suas necessidades diárias sem grandes deslocamentos. Pois é, mas o plano foi alterado pela dinâmica e o uso diário da cidade. Ainda assim, elas são vistas como verdadeiros patrimônios históricos e culturais de Brasília, além de serem um exemplo de planejamento urbanístico admirado mundialmente, já que aqui o pedestre, o cidadão, a comunidade sempre estiveram em primeiro plano.
Inclusive, para quem quiser se aprofundar nessa história, o livro A Invenção da Superquadra, escrito por Matheus Gorovitz e Marcílio Mendes Ferreira, explora profundamente a criação e a evolução das Superquadras de Brasília, representando um marco no estudo do urbanismo e da arquitetura modernista da capital. Lançado pela primeira vez em 2009 e relançado em 2021, o livro oferece uma combinação de registros históricos, desenhos técnicos, entrevistas e fotografias que detalham as primeiras construções residenciais da cidade. A obra analisa os ideais de Lúcio Costa ao planejar as Superquadras como unidades de vizinhança, visando promover a convivência entre diferentes classes sociais, embora com o tempo essas expectativas tenham se transformado.
Não sei se você percebeu, mas, ao longo desse texto, faço questão de escrever Superquadra com inicial maiúscula, pois o conceito de autossuficiência desses espaços é tão surreal para mim que vejo como se fossem verdadeiros super-heróis — mote que usei para fazer este Reel que está imperdível, assim como a oportunidade de comprar a camiseta Superquadras da BSB Memo e sair por aí ostentando seu orgulho por essa invenção que só existe aqui e em nenhum outro lugar do mundo. #DICADOGIBA!
Crédito fotográfico: Gilberto Evangelista